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Acordo nos EUA beneficiaria 7 mil brasileiros
Trump
e democratas negociam lei para regularizar situação de jovens levados ao país
ainda na infância
Cláudia
Trevisan, Correspondente / Washington , O Estado de S.Paulo
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Setembro 2017 | 05h00
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Valéria do Vale, brasileira beneficiada pelo Daca, o programa que suspende deportação de imigrantes indocumentados levados aos EUA na infância Foto: Valéria do ValeAdd caption |
A
brasileira Valéria do Vale tinha 7 anos quando cruzou a fronteira do México com
os EUA e se instalou na região de Boston com sua mãe e a irmã mais nova. Em
2014, ela foi aceita no programa que suspende deportações de jovens levados ao
país na infância, conhecido pela sigla “Daca” e encerrado pelo presidente
Donald Trump há dez dias.
Ontem,
o presidente anunciou que está “bem próximo” de um acordo com o Congresso para
aprovar uma lei que regulariza a situação dos que receberam o benefício, um
universo de 800 mil pessoas, entre as quais 7.361 brasileiros.
A
notícia não deixou Valéria eufórica. Nem otimista. “Essa negociação não inclui
minha mãe. Eles não querem incluir nossos pais, que trabalham, pagam impostos e
contribuem para esse país”, afirmou. O ex-presidente Barack Obama implantou o
Daca por decreto em 2012. Dois anos mais tarde, ele editou outra medida que
beneficiava parte dos pais de jovens beneficiados pelo programa, mas ela foi
suspensa judicialmente.
Trump
anunciou o fim do Daca e deu prazo de seis meses para o Congresso encontrar uma
solução definitiva. Os inscritos no programa puderam obter número de seguro
social e permissão para trabalhar legalmente. Valéria, de 19 anos, usou sua
nova identificação para se candidatar a vagas em universidades e pleitear
bolsas de estudo. Ano passado, foi aceita na Northeastern University, onde
estuda sociologia.
Seu
inglês é melhor que seu português. Como muitos indocumentados, Valéria nunca
mais voltou a seu país de origem. Pouco antes do anúncio de Trump, ela se
preparava para pedir autorização para ir ao Brasil visitar os avós, que estão
doentes – essa é uma das poucas situações em que os inscritos no Daca podem
sair dos EUA e voltar. Após o fim do programa, ela desistiu da ideia.
O
acordo em torno de uma legislação que regularize a situação desses jovens
começou a ser costurado na quarta-feira em um jantar de Trump com os líderes do
Partido Democrata no Senado, Chuck Schumer, e na Câmara, Nancy Pelosi. Nenhum
republicano participou do encontro.
Trump
afirmou que a solução para o Daca está condicionada à aprovação de
investimentos “massivos” para a segurança da fronteira. Mas ele concordou em
adiar a definição de financiamento para a construção do muro entre EUA e
México, uma de suas principais promessas de campanha. “O muro virá mais tarde”,
declarou.
Valéria
teme que o preço da aprovação do Daca no Congresso seja o aumento da repressão
a imigrantes indocumentados como sua mãe, que saiu com as duas filhas de
Jacundá, no Pará, fugindo da violência doméstica.
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